Maternidade compulsória e o ato vangloriado de ser mãe

Por Aline Souza

#maternidade #feminismo #nomom #maearrependida #capitalismo

É muito difícil falar disso. É muito difícil organizar o pensamento em relação à maternidade e o ato de ter filhos por “escolha”. De onde vem o desejo de ter um bebê? Por que aceitamos com tanta facilidade a maternidade compulsória e rejeitamos com tamanho cinismo as mulheres que escolheram não fazer parte disso?

Para muitas pessoas, as inúmeras renúncias da maternidade são fases difíceis de um sonho: o maternar. Para outras, significa a consumação do que encontraram ao gerir um filho: um completo pesadelo. Se está difícil aceitar que existem mulheres que se arrependem de ser mães, onde fica o acolhimento e a aceitação social para com aquelas mulheres que escolheram não ser mães em hipótese alguma?

É preciso dizer que tenho profundo agradecimento por aquela que me aceitou dento de seu corpo e desde então vem trilhando uma incrível jornada ao meu lado, me dando a mão sempre que precisei: minha mãe. Também respeito muito outras mães que seguem sendo antes de tudo mulheres encantadoras, buscando se encontrar em meio a tantas demandas, sem se perder jamais dentro de uma única: a maternidade. Precisamos desconstruir o contorno sagrado entorno dela.

A motivação pela maternagem dificilmente é genuína

Por qual motivo uma mulher decide ter um filho? Qual a real motivação disso? Em situações normais, podemos cogitar alguns motivos. Talvez continuar a espécie humana na terra (que já está bastante povoada)? Ter um ser humano para ela projetar todos os seus sonhos não realizados? Ter um ser humano talvez, com sorte, ter uma companhia ao longo da vida na esperança de amor incondicional? Conquistar alguma autoridade sobre alguém, ainda que momentânea? Fazer uso de seu órgão biológico capaz de gerar vida e se olhar no espelho com uma barriga enorme? Fazer várias fotos da barriga enorme e se lembrar disso para o resto da vida? Sentir nostalgia de um sentimento infantil e possessivo de um dia segurar um bebê que ela gerou e dizer ‘é meu’? Obter respeitabilidade social e familiar? Por competição com outras mulheres do círculo social? Sensação de dever cumprido enquanto mulher e/ou esposa?

Algumas mulheres são codependentes do ato de cuidar porque assim elas aprenderam ao longo da vida. Elas foram criadas e educadas a pensar que cuidar é tudo que elas têm a fazer, tudo que se espera delas, é o melhor a que elas servem. Essa influência invisível é sentida desde a infância, quando somos apresentadas ao mundo dos cuidados, que é majoritariamente feminino. Tanto que, hoje, nas áreas profissionais de enfermagem, psicologia, educação primária, existem majoritariamente mulheres. Enquanto os meninos brincam de super-heróis e carros, nós, mulheres, brincamos de mamãe e filhinha com as bonecas. Um problema na criação de nossas meninas.

Logo, o cuidado é um trabalho que foi sendo construído automaticamente como sendo o papel de uma mulher. Aí entramos no debate super necessário nos dias de hoje sobre a divisão desigual do trabalho doméstico nos lares das famílias, e entramos no fato irrefutável da sobrecarga feminina. As mulheres estão exaustas. Como já disse Silvia Federici, aquilo que as pessoas no geral chamam de “amor maternal”, nós devemos chamar pelo nome correto: trabalho não remunerado que alimenta o capitalismo como nós o conhecemos desde sua fase primitiva.

Há várias pesquisas realizadas que mostram isso. A mais recente se chama “Esgotadas”, realizada pela Think Olga, que apontou quase metade (45%) das mulheres entrevistadas possui um diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental. Os sintomas são estresse, sonolência, irritabilidade, baixa autoestima, insônia e tristeza. E o que motiva geralmente é a falta de dinheiro, insatisfação com o trabalho profissional e a sobrecarga geral. Como conclusão, a pesquisa afirma: não há futuro possível se o sofrimento e o adoecimento das mulheres não forem cuidados imediatamente.

Mulheres na Islândia, o país mais seguro para ser uma mulher no mundo, com altos índices de igualdade de gênero, fizeram uma greve nacional de 24 horas no dia 24 de outubro paralisaram seus trabalhos para denunciar a diferença salarial entre os gêneros, a carga desigual de trabalho doméstico não remunerado e a violência que afeta desproporcionalmente as mulheres. O país ocupa a posição mais alta do mundo nos índices de igualdade de gênero, mas a renda média das mulheres ainda é 21% menor do que a dos homens.

Pela quinta vez em 50 anos, milhares delas saíram às ruas pela igualdade salarial. Em 1975, 90% da força de trabalho feminina da Islândia abandonou seus empregos e funções de cuidado, revelando a importância de seu trabalho, fosse ele remunerado ou não. no ano seguinte, foi aprovada uma lei que garantia direitos iguais entre homens e mulheres no país. A luta das mulheres muda o mundo!  Se não está fácil para as islandesas, imagina para nós?

Gravidez forçada é tortura!

Aqui precisamos ressaltar o obsceno PL 4145/2019 que pretende, de novo, avançar, com o “Estatuto do Nascituro“, que por tantas vezes já foi derrotado pela luta feminista na última década.  Desejam criminalizar todos os casos de aborto já legalizados no Brasil, TODOS, até aqueles em casos de estupro, obrigando mulheres a terem filhos que não desejam ter. O alvo também é a pílula do dia seguinte. Ou seja, gravidez forçada. E ainda não estamos na distopia completa que nos faz lembrar Gilead de “O Conto da Aia”.

Lembrando sempre que o aborto é uma realidade desde os tempos imemoriais no mundo e no Brasil não é diferente. Devemos tratar como uma questão de saúde pública e classe social, uma vez que as mulheres que podem pagar, recorrem a ótimas clínicas. As que não podem, acabam morrendo na clandestinidade.

Torna-te mãe e serás salva

A cigana que nos contou isso roubou nosso dinheiro. É importante dizer que o fato de engravidar não vai salvar uma mulher de absolutamente nada. Nem do abandono, nem da rejeição patriarcal, nem da violência doméstica, nem da relação abusiva que ela está inserida. No passado as mulheres foram obrigadas contra sua vontade a se casarem dentro de arranjos familiares onde elas eram moeda de troca.

Mas em 2023, as mulheres se metem em enrascadas até piores do que essa. Mulheres que sofrem violência doméstica durante a gestação e o puerpério são incentivadas a contornar a situação em nome da família. Isso ocorreu com 94% das mulheres que responderam ao levantamento feito pel’AzMina, o que mostra a vulnerabilidade que os períodos de gestação e puerpério representam para as pessoas que gestam.

Em muitos casos, elas tiveram a gravidez programada, desejada, os próprios parceiros pediram para que elas engravidassem. Sabemos que quando alguns homens afirmam que querem ser pais, no fundo o que eles estão dizendo é que desejam que as mulheres tenham filhos deles. São coisas bem diferentes. Em todos os casos, as agressões tendem a se intensificar após a gravidez. E o pior é que a maioria dessas mulheres não se consideram vítimas, mesmo sendo punidas por não preparar o jantar, não lavar a roupa da casa, não cumprir com seus “deveres” domésticos.

Inseguras dentro de casa. Inseguras fora de casa. A maioria delas não recebem apoio ao fazerem qualquer denúncia das agressões. As próprias famílias dessas mulheres, quando existem, são coniventes e muitas delas perdem o emprego após a gestação. Elas são empurradas para o lugar de “heroínas“, enquanto o comportamento dos parceiros é justificado pela “dificuldade de adaptação à paternidade”. Mas algumas mulheres não são empurradas. Elas se colocam nesse papel por livre e espontânea vontade.

Heroínas e quase Santas

É sobre esse lugar de “heroínas” que algumas mulheres se colocam após se tornarem mães que eu gostaria de falar. Não sobre as mães que sofreram esses abusos ou que foram “convencidas” pela sociedade a ter filho de homens abusivos. Mas daquelas mulheres cuja maternidade é vivenciada como uma redenção pessoal, algo que vai torná-las seres humanos melhores automaticamente, espécie de unção capaz de alçá-las a um local de sacralização da sua existência enquanto mulher, e, portanto, colocando o mundo todo em dívida com elas.

Às vezes tenho o hábito de ouvir mulheres-mães ao meu redor e observei que existe entre algumas delas uma constante. Elas saem para conversar, beber um drink ou almoçar e só reclamam do fato de serem mães. Reclamam das tarefas com os filhos, do dinheiro que está curto, do menino que não desmama, da menina que é carente o tempo todo, de não conseguir ver um filme (apenas desenho animado), de não fazer sexo, de lavar a louça, de “ter que” isso e “ter que” aquilo. São muitas demandas para essas mães que escolheram ter filhos, no plural. Sim, porque não satisfeitas com um, algumas delas tiveram mais filhos. E agora a vida delas é “desabafar” sobre a vida sofrida. Tão coitadinhas.

Então, apenas elas precisam lavar louça? São as únicas que não transam há meses? São as únicas representantes da estafa mental que é ser mulher no mundo? Apenas elas estão com o dinheiro curto? Ou indecisas sobre qual caminho tomar para tentar ter um futuro profissional digno? Infelizmente a resposta é não. Sou a prova viva de que há outras representantes do gênero feminino que também sofrem com inúmeros afazeres e demandas. A pia da minha casa não será limpa sozinha.

Ninguém “tem que” nada. Ainda que não saibam, eu gostaria de lhes dizer que a maternidade foi uma escolha de vocês. Conscientes disso ou não. A maternidade compulsória consiste na prática de culturas sociais que condicionam e formam o cenário onde uma mulher se insere como mãe. É um conjunto de práticas sociais que levam as mulheres a uma maternidade não pensada, que faz com que elas acreditem que o caminho biológico da mulher é ser mãe. Então, elas têm esses filhos sem pensar se antes de tudo isso elas estão prontas e, mais importante, se elas querem ser mães. E se querem, por que querem?

Ora, eu me pergunto: quem se importa de verdade com a solidão da mulher solteira, sem filhos, com 40 anos, vista por toda uma sociedade como uma mulher assustadora e perigosa? Quem quer ser amiga dessa mulher hoje em dia? Quem as contrata? São julgadas o tempo todo como volúveis. Sem lastro. Aquela que não dá satisfação a ninguém (leia-se a um homem, seja marido, chefe, pai, irmão). Aquela sem compromisso. Aquela que já não é tão novinha, está na meia idade ou chegando à velhice iminente (etarismo). Julgadas por ter liberdade demais, a vida delas, no senso comum, está supostamente muito maravilhosa. Quem as convida para almoçar aos domingos com as famílias? Quem está do lado delas quando estão doentes para fazer um chá? Quem se importa com essas mulheres de verdade?

Quando a mulher é mãe, ela automaticamente adquire o respeito social, afinal “ela tem com o que se ocupar na vida”, mas quando a mulher é solteira sem filhos, a coisa muda bastante de figura. A sociedade pensa ‘olha só que absurdo, que mulher má, essa mãe que não quer ser mãe’, no caso das arrependidas. Ou pior, ‘essa mulher é má pois não sonha em ser mãe’. Negar a maternidade é motivo de ataques e julgamentos inclusive vindos de outras mulheres.

Lazer e maternagem combinam?

Eu caí de paraquedas em um encontro de mães numa certa tarde de domingo. Uma mulher, que é mãe, estava com a tarde livre e queria dançar e conversar ao som de ritmos latinos. Para minha surpresa, ela também convidou para o mesmo programa outras amigas mães. Todas que eu não conhecia. Obviamente e infelizmente, o papo se resumiu a filhos, relatos diversos da vida muito sofrida delas e a falar mal de homem. Dos ex-maridos. Uma delas inclusive contou que bancou financeiramente a vida de casada com um homem que não trabalhava por cinco anos porque ele era o pai da criança. Ninguém foi para a pista de dança naquele dia.

Em solidariedade permaneci ouvindo. Não queria parecer mal educada, a diferentona que se ausenta da mesa para dançar reforçando o lado libertino da mulher solteira aos 40 anos sem filho. Me integrei à roda de mulheres, mesmo a contragosto uma vez que minha vontade era dançar ritmos latinos quando saí de casa.

Uma criança chorava bastante na mesa ao lado durante o tempo que estivemos lá. Em dado momento o assunto da nossa mesa foi estendido para a mesa ao lado onde havia outras duas mães de filhos pequenos, uma delas disse que tinha três e achou ok levar a menor de 2 anos para passar o dia no bar onde o pai da criança trabalha de garçom. A criança tinha passado a tarde toda incomodada e chorando de tempos em tempos. Essas mães da minha mesa iniciaram então diversas tentativas de fazer parar de chorar a criança. Ou seja, mesmo no tempo livre delas, resolveram bancar a cuidadora de crianças alheias. Tudo em prol do senso de comunidade. Aquela história da aldeia que deve se responsabilizar por toda e qualquer criança, sabe?

Acho louvável o espírito de comunidade e fraternidade, toda sociedade deve ser sim um pouco responsável pelas crianças que existem entre nós. Não é esse o ponto. Mas para mim, quem pariu Mateus que o balance. E não sou obrigada a ficar cuidando de crianças em um bar aonde fui para me divertir. Ou eu sou muito egoísta e involuída ou essa gente é viciada em cuidar e reclamar de cuidar se fazendo de vítimas o tempo todo.

Existem ainda aquelas que se autodefinem “mães” por excelência, logo após dizer o próprio nome. Quase que uma extensão automática do que elas são, enquanto seres constituídos. Já me deparei com inúmeras Bios pela internet afora de mulheres que se apresentam dizendo o nome delas, mãe de fulano e betrano, e só depois descrevem os grandes feitos de suas vidas e o quão maravilhosas elas são como pessoas e profissionais. Gente! A maternidade surge muito depois de tudo isso. Pelo AMOR das DEUSAS! Vocês fizeram coisas incríveis antes de serem mães e são pessoas há muito mais tempo no mundo do que a chegada dos filhos. Parem de colocar o fato de ser mães na frente daquilo que vocês são em essência. Apenas PAREM!

Merecemos seu respeito, afeto e amizade

Ainda bem que não estou sozinha nessa. Vi outro dia uma postagem cômica que tentava reproduzir a sensação de uma mulher que escolheu não ter filhos em meio a tantas outras mães. Os comentários são variados, mas alguns chamam atenção. Uma mulher escreveu: “me sinto plena”, e outra “graças a Deus que escolhi assim”.

Há muitas de nós que estão bancando e assumindo a escolha de não ter filhos por motivos variados e o primeiro deles é o fato de que o mundo está acabando, literalmente as condições de vida na terra estão cada dia mais reduzidas com a crise climática apontando um aquecimento de 4 graus até o fim desse século. As próximas gerações, caso possam sobreviver, tendem a sofrer bastante com essa realidade. Outros fatores são as questões econômicas e a instabilidade profissional que muitos adultos vivem. A realização cada dia mais distante de ter uma casa própria e a vontade de tentar viver uma vida mais voltada para o autocuidado e realizações pessoais, aqui e agora no presente.

O problema é quando, mesmo com tantas razões para não fazê-lo, algumas pessoas escolhem ter filhos e usam isso em benefício próprio para se autopromover ou conseguir benevolência da sociedade, se colocando em um lugar superior por isso perante outras mulheres e sempre se fazendo de coitadas, sofridas, afinal, são mães né? Os demais seres humanos têm a obrigação de dar um desconto. Sabe como é. São mães.

Por medo de rejeição social, muitas mulheres mães acham OKEI praticar rejeição contra outras que negaram a maternidade por escolha. A penalização social é um fato irrefutável. Por um lado, existe o prazer de muitas mulheres quando castigam a ‘pecadora’ que refutou o gesto sublime que é gerar uma vida, e, por outro, o fato de que muitas se calam ou criticam pelo temor de serem elas mesmas o alvo do que os outros vão dizer se consentir e aprovar a não maternidade ou o arrependimento de ser mãe em público.

Agora, dos homens que se arrependeram de ser pais ninguém fala. O Brasil é o país com maior índice de mães solo sustentando famílias inteiras e maior índice de filhos sem registro de paternidade. Evasão parental que chama. Sim, se for homem e se arrepender, tudo certo! Um homem não é julgado da mesma maneira por repensar a paternidade. Não se considera algo tão reprovável, nem tão aberrante, nem tão antinatural como no caso de uma mulher. Além disso, se um homem compartilha o sentimento no seu ambiente, geralmente é entendido, e raramente é criticado.

Quero saber quem dessas heroínas santificadas mães daria conta de sustentar a solidão que vive uma mulher solteira e sem filhos na idade de 40 anos. Qual delas têm a coragem de não aceitar qualquer homem só para dizer que não ficou para titia. Qual delas têm a coragem de questionar o desejo de ser mãe motivado por puro medo de envelhecer sozinha ou pior, para ter quem cuide delas na velhice. Ou pior ainda para projetar autorrealização nos filhos.

A não maternidade é um ato político de muito mais coragem e força do que a escolha clichê de ser mãe, seguindo exatamente o padrãozinho que se espera de toda mulher nesse mundo capitalista que precisa de mão de obra para explorar e se manter. Verdades inconvenientes, mas pergunte a uma mulher por que ela quis ter filho que arrisco afirmar a resposta não será nada nobre. Se forem realmente honestas e francas com elas mesmas, os motivos sempre giram em torno de profundo egocentrismo.

Mas tá aí algo que nunca saberemos, pois depende de as mulheres mães dizerem a verdadeira motivação. E quem tem a coragem de assumir as inseguranças que as motivaram? Tenho quase certeza que nenhuma vai reconhecer sem disfarces que a maternidade não é o ápice da autorrealização. Para algumas mulheres, ter rebento, longe de ser o estado ideal com que toda mulher sonha (e é melhor que sonhe mesmo), revelou-se algo odioso e frustrante.

A maternidade é um empreendimento de alto risco, sem reconhecimento e sem retorno. Apesar de tudo, existem mulheres que conseguiram enxergar os tentáculos da maternidade compulsória sobre elas e escaparam de uma vida de arrependimento. Para elas, ainda resta o julgamento social sobre ser uma mulher sem filhos. Ainda bem que existe laqueadura para mulheres sem filhos garantida por lei (Lei 14.443/2022), um avanço na garantia de direitos sexuais e reprodutivos, embora tentem desvencilhar a mulher que deseja seguir com o procedimento.

Outro depoimento encontrado pela minha pesquisa foi o de Joseina, técnica em informática e biomédica. Para consumar a vontade de não ter filhos, decidiu fazer uma laqueadura. “Eu já tinha 40 anos, a época de ter filhos já foi, e mesmo assim os médicos não quiseram fazer”. Ao visitar o consultório de uma médica, escutou que precisava da autorização de freiras do local. “Dá para acreditar? Fiquei mais assustada porque era uma mulher me dizendo isso. Eu não tenho que pedir autorização para ninguém, a única conta que eu devo prestar são as legais, que estão na constituição, e isso eu tinha, mesmo assim foi muito complicado”, disse.

Apesar da resistência, a biomédica concluiu a laqueadura, depois de obter ajuda de uma advogada especializada em direito reprodutivo. Sem qualquer chance remota de engravidar hoje em dia, recaiu sobre ela outro questionamento. “Você não se arrepende?”. Ela responde com convicção: “As pessoas acham que não ter filhos me afeta psicologicamente, mas é o contrário. Foi justamente depois da decisão que eu me libertei, vi meus limites e me aprofundei em mim mesma”, finaliza, em paz.

É muito comum naturalizar o julgamento sobre as mulheres pelo que elas pensam ou deixam de pensar. Fazem ou que deixam de fazer. Sentem ou deixam de sentir. “Você vai se arrepender!” – é o que ouve por aí toda mulher que decide não ser mãe. Mas jamais é permitido se dizer arrependida depois de ter colocado um filho no mundo, jamais há espaço para admitir que a escolha pela maternidade foi um erro, não há espaço para mudar de opinião, lamentar ter se deixado levar pelas circunstâncias ou pelas convenções sociais que apontam que esse é o “caminho natural” a ser trilhado por uma mulher, o “próximo passo” depois do casamento, a decisão acertada devido ao tal “relógio biológico”, que está pressionando. O senso comum que classifica a maternidade como o passaporte para a família feliz, perfeita e completa, tende a rotular as mulheres que descartam a maternidade como cruéis. Mas não são. Elas merecem seu respeito, afeto e amizade. E sim, existem mães arrependidas que tiveram e amam seus filhos, mas odeiam ser mães e precisamos falar sobre isso.

Durante a pesquisa para escrever esse texto me deparei também com o trabalho genial da atriz Karla Tenório, que escreveu uma peça de teatro com o título “Mãe Arrependida“, a quem eu escrevi um depoimento que ela usou para dar mais visibilidade ao tema. Publicado em seu Instagram, o depoimento mostra que existe uma tensão oculta entre as mulheres mães e não mães, quando na verdade o inimigo é outro, ou deveria ser.

Nós precisamos falar da maternidade compulsória. Ser mãe tem de ser uma escolha. Algo muito bem pensado. Como são corajosas todas as minhas amigas que, assim como eu, não desejam ser mães e que conseguem se posicionar e dizer o que até então parecia indizível. Elas são fortes o suficiente para dizer ao mundo, à família e à própria mãe que a maternidade pode ser linda, mas não é para elas.

Outrora queimamos mulheres vivas apenas por serem sábias e as acusamos de bruxas. Hoje, a fogueira da modernidade é o cancelamento. E o alvo continua sendo as mulheres. Principalmente as mães arrependidas e aquelas que sustentam todos os dias a escolha de não ter filhos carregada de rejeição social. Precisamos falar sobre isso e desconstruir o contorno heroico entorno de maternidade. Nenhuma mulher é superior à outra por ser mãe, nenhuma mãe é mais mulher que a outra, mais preenchida, mais realizada. Ninguém merece uma medalha por ser mãe. Essa é uma visão que serve à competição entre mulheres, algo que está a serviço do patriarcado e do capitalismo. Parem de rotular as mulheres que enfrentam isso a ponto de suportar todo o peso e a cobrança social de não serem mães.

A maternidade será desejada ou não será!

Referências pesquisadas para esse artigo:

Esgotadas – Think Olga https://lab.thinkolga.com/esgotadas/

Podcast Café da Manhã – Folha de São Paulo – O que dizem as pesquisas sobre a sobrecarga das mulheres
https://open.spotify.com/episode/5irGhO3bRe2azCqdGXuMOj?si=ZDE-II4tQnahmFEtcqRngw

Greve de Mulheres na Islândia – UOL https://www.youtube.com/watch?v=5NkeQis17cs

Greve de Mulheres na Islândia – Mídia Ninja https://www.instagram.com/reel/Cy5J_1TAI_q/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng%3D%3D

Gravidez forçada – Coletivo Juntas https://www.instagram.com/p/Cy4KX84vYUM/

Gilead | entenda a história e a geopolítica em “o conto da aia” https://gavetadebaguncas.com.br/gilead-historia-geopolitica-conto-aia-handmaids-tale/

Violência Doméstica na gestação e pós -parto – Azmina https://azmina.com.br/reportagens/violencia-domestica-na-gestacao-e-pos-parto/

Mudança nas regras para laqueadura e vasectomia entra em vigor – Cofen https://www.cofen.gov.br/mudanca-nas-regras-para-laqueadura-e-vasectomia-entra-em-vigor/

Sobre mães arrependidas:

El País

Estadão

Mulher.com.br

Agência de Notícias Uniceub

Portal UOL

BBC Brasil

Livro “Mães Arrependidas – uma outra visão da maternidade” Autora: Orna Donath

“O grande pacto”, livro de estreia de Aline Souza

Meu primeiro livro acaba de ser lançado pela editora Caravana.
Quando divulguei essa informação para as pessoas, a surpresa de algumas amigas me chamou atenção: “Nossa! Não sabia que você estava escrevendo um livro!”. Respondi: Nem eu!

Na verdade, eu sempre escrevi, mas passei sete anos da minha vida afastada de mim, do meu coração e da minha criação literária. No fundo eu já estava escrevendo há muito, mas como tudo na vida tem seu tempo, a hora de mostrar ao mundo chegou.

É uma coletânea de contos, crônicas e poemas que reuni nos últimos 20 anos. Os textos foram revisitados por mim em uma curadoria feita com muito cuidado e carinho com a mulher que eu já fui, mas com o olhar da mulher que eu sou hoje.

A proposta é apresentar uma leitura suave, mas com reflexões, trazendo um outro olhar para acontecimentos que geralmente julgamos como corriqueiros, passando despercebidos muitas vezes.
Outro ponto marcante do livro são os deslocamentos e as marcas que eles deixaram em mim ao longo do tempo, um caminho de solidão e solitudes. O prefácio foi escrito pela amiga e também escritora Daniela Novais (Danski).

Convido vocês a conhecer a minha estreia na literatura com votos sinceros para que esse livro inspire mais mulheres a colocar suas vozes no mundo! Que seja o primeiro de muitos outros livros que ainda vou escrever!

“O grande pacto”

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Meu silêncio não é mudo

Eu fico sempre vendo essas pessoas que escrevem livros na quarentena, que escrevem milhares de coisas na quarentena, que fazem seus diários divertidos, seus podcasts, seus milhares de projetos e filhos também. Tem uma pá de mulher parindo por aí. Eu fico olhando tudo isso e pensando: gente! Eu só quero olhar a água da chuva. Observar as folhagens da minha planta subir e descer ao longo do dia na varanda de casa. Eu só quero observar o trabalho das formigas ao transportar a carcaça de um mosquito morto pelo chão da sala até o mundo fora da janela. Inclusive fazendo com maestria o transporte daquele cadáver muito maior que elas no trecho “negativo” que daria inveja a qualquer alpinista e com uma dificuldade extra que é a cortina batendo ao sabor do vento. Eu só quero isso.

@ladrilha

Sabe aquela pessoa que se senta à beira de um riacho para observar o curso da água quando cai uma folha seca na superfície e é levada pela correnteza? Então, essa pessoa sou eu e a folha seca são os meus pensamentos. Eu não quero ter que fazer nada com eles a não ser observá-los. Outro dia um beija-flor foi enganado pelo enfeite colorido de papel que tenho pendurado na varanda. Deu pena. Me senti mal. Uma impostora que engana os pobres colibris. Que tipo de gente sou eu? Pensei. Preciso urgentemente comprar um daqueles suporte de plástico com água doce dentro para tentar reparar esse erro terrível cometido contra os beija-flores que vieram inadvertidamente me visitar.

Mas ora! Será mesmo?

Uma flor de plástico com água de açúcar dentro é a melhor coisa a se fazer? Mais verdadeiro? Mais honesto? Eu nem tenho açúcar em casa. É melhor aceitar que o beija-flor tem lugares mais interessantes para visitar como as inúmeras flores de verdade disponíveis por aqui. São dracenas, pelo que eu soube. Elas perfumam a casa todos os dias de 16 às 19h na primavera. Tá tudo bem né beija-flor? Eu não sou nenhuma impostora por conta disso né?E também não sou nenhuma impostora porque não escrevi livros incríveis nesse isolamento, ou porque estou solteira e em abstinência sexual há quase 1 ano, senhor!

Ouvinte assídua de podcast, estou com preguiça de falar porque acho que já tem muita gente falando e falando e falando. Eu estou aprendendo a gostar do silencio cada vez mais. Ouvir apenas os pássaros. Todos eles, os de perto. Os de longe. Já perdi as contas do tempo que estamos em casa e já desisti de ficar sofrendo por causa disso. Até me maquiar e me vestir para ver lives de música e dançar na sala de casa sozinha com uma taça de vinho já rolou. Eu nem sei porque estou aqui contando isso. Talvez porque eu saiba que ninguém vai ler mesmo. Então está tudo bem.

Que preguiça de gente que quer falar o tempo todo, se colocar, se posicionar o tempo todo. Fazer live. Fazer podcast. Fazer evento, fazer fazer e fazer. Socorro! Será que ninguém aprendeu nada com toda essa pandemia? Parem um pouco de fazer e aproveitem o que já foi feito. Sintam o que já existe. Observem o que já está aqui. Sintam o presente sem pensar no futuro. Essa agonia está nos matando.

IG – @nell_souza

Tw – @souzaline

Marrom é a cor mais quente

O mito da imparcialidade da mídia colabora para eximí-la de uma responsabilidade que possui dentro de uma sociedade democrática em risco.

Temos visto hoje um ataque sistemático à imprensa por parte do Governo Federal e seguidores, que adota uma postura negacionista para muitos assuntos de nossa sociedade e prega inverdades em seus discursos. A imprensa tem um papel fundamental de informar as pessoas e é um ator chave dentro de um sistema democrático. Países onde existe uma democracia mais amadurecida, com processos civilizatórios mais longos, já adotam o sistema de empresas de comunicação pública, com conteúdos abertos, educativos, comprometidos com a evolução da cidadania. Diferente de uma comunicação estatal que serve a interesses de governos de acordo com a sua alternância. Uma imprensa livre e independente é um dos pilares de um regime democrático. É bastante grave assistir a esses ataques, assistir a repetidas construções de redes de desinformação vinculadas ao Governo e à família do presidente, assistir o abandono dos fatos e dos dados para dar lugar ao caráter subjetivo do que é a verdade. A verdade se alicerça em fatos e dados científicos que não estão atrelados a pontos de vista.

Dito isso, há que se pensar também no mito da imparcialidade tão perseguido pela imprensa moderna e muito ensinado em nossas faculdades de jornalismo. As pessoas só se esqueceram de mencionar que a imprensa corporativa tem nome e sobrenome. Existem muitos grupos econômicos por trás e inclusive essa foi a motivação para muitas famílias criarem no passado os seus próprios veículos de informação. Uma prática bem comum no inicio do século XX, mas que remonta aos tempos do Império no Brasil. É honesto por parte dessas empresas e grandes conglomerados que eles se coloquem com clareza editorial para que a população seja capaz de entender com quem estão lidando, ao invés de terem como verdade única o discurso de um ou de outro jornal/revista/noticiário de rádio ou TV.

Houve um tempo que era assim, mais ou menos nos anos 1930|1950. Um tempo conhecido como era da imprensa marrom, as pessoas sabiam qual linha de pensamento seguia determinado jornal, como exemplo do Última Hora de Samuel Wainer, que era getulista. Antes de haver esse mito da imparcialidade, de ter que dar duas versões, ouvir os dois lados. Por um lado, parece que é o mais ético a se fazer, mas por outro é extremamente hipócrita, principalmente quando estamos lidando nitidamente com um inimigo comum – o avanço do conservadorismo da extrema direita em todo o mundo, que coloca em risco nossas democracias duramente conquistadas com sangue suor e lágrimas.

Da imprensa real à atual” é um texto já publicado por mim aqui antes, prova de esse tipo de questionamento me acompanha há um certo tempo.

Não vou entrar no mérito da vigilância eletrônica por meio das redes sociais, nem da abominável prática da venda casada de aparelhos de telefone celular vinculados aos aplicativos de redes sociais de uma mesma empresa, nem nos dilemas éticos por trás dos algoritmos que manipulam os mais desavisados facilmente e extraem nossos dados, fotos, informações mais íntimas, nossos sentimentos e emoções. Transformando-nos em gado sem que percebamos indo direto para o abatedouro.

Importante é mencionar o fato de que, muito embora esses grandes conglomerados midiáticos tenham interesses de famílias por trás, a nossa legislação constitucional é clara em um ponto: os veículos de imprensa não têm dono. Eles recebem do Presidente da República concessões públicas de Rádio e TV. Essa concessão pode ser renovada em determinados períodos. Alguns governos com legislações semelhantes na América Latina já revogaram concessões de TV que lhes fazia oposição. Essa concepção de “donos da mídia” é muito importante ser desmascarada e há relevantes trabalhos sobre isso, como o que realiza o Coletivo Intervozes há alguns anos por exemplo.

Acredito que veículos como Brasil de Fato, A Nova Democracia, Centro de Mídia Independente, Canal Meio , Jornal Nexo, Jornalistas Livres, algumas dessas iniciativas nem tão novas, fazem um contraponto necessário.. Afinal, vândalo é o Estado que deixa grande parte de seus cidadãos e cidadãs às margens da sociedade, sem direitos humanos básicos como transporte, moradia digna, emprego e acesso à água e saneamento, por exemplo. As escolhas de Paulo Guedes interferem na vida das pessoas com capacidade de vida e morte e isso precisa ser visto da forma como é. Sem eufemismos bonitos.

“Contra a corrupção e em defesa da democracia” foi a frase motivação para muitos golpes ditatoriais no Brasil. Sem dúvida, a conta das Jornadas de Julho de 2013 resulta nos dias de hoje e grande parte dessa responsabilidade é da nossa imprensa elitista, conservadora, hipócrita e cheias de bom mocismo imparciais. A construção do antipetismo no imaginário popular das pessoas das diferentes classes sociais não tem nada de isenta ou imparcial. São muitos panos quentes sendo colocados ainda hoje, mesmo com nossa economia indo para o buraco, nossas florestas e biomas ardendo em chamas, a insegurança alimentar aumentando dentro das famílias brasileiras e uma pandemia sem controle que já matou mais de 140 mil pessoas.

Eu quero muito ver quem vai se levantar para dizer o que precisa ser dito, em alto e bom som todo dia se necessário for.

#ComunicaçãoLivre
#Democracia
#EscritusInfinitus

Esse artigo foi inspirado no podcast Novo Normal do Agora É que São Elas, escrito na rede em um domingo de 37 graus no Rio de Janeiro 🙂

Leia entrevista de Samuel Wainer no Almanaque da Folha SP em 14 de janeiro 1979.

As maiores conquistas estão além da incerteza

Essa frase eu li em um quadro por um breve momento durante uma tarde de melancolia, no dia em que eu passava diante da banca da artista que o desenhou. Me chamou atenção as cores e a personagem que aparece em várias outras cenas de seu trabalho. Tivemos então a oportunidade de conversarmos um pouco contando brevemente a nossa trajetória de vida uma para a outra, os desafios atuais de nossas vidas e de como em alguns momentos estamos nos sentindo tristes e sozinhas.

Foi muito especial aquele momento. A gente se abraçou, olhamos nos olhos e sentimos aquele afeto da cumplicidade entre duas mulheres que se identificam na busca profunda de se encontrar quem se é. Ela me disse que eu poderia escolher um quadro. Qualquer um deles. Era um presente.

Meu coração ficou com esse. Acredito que ele fala mais com o momento que estou vivenciando, a cena na qual a mulher sente um chamado interno para seguir rumo ao desconhecido com a certeza de que ela precisa ir, apenas ir. Desbravar aquilo que parece ser uma floresta escura, uma sombra onde ela terá apenas sua própria luz, sua essência, seu íntimo para guiar. Deixando para trás a sua zona de conforto, seu espaço de terra firme, seguro, cheio de estrelas e flores e libélulas, como se essa mulher plantasse algo que agora precisa florir, esse pássaro interno que quer voar.

Porém, a mulher ainda olha para trás como se deixasse ali uma parte dela, um pouco do que ela foi, alguém que se despede desse passado e sente a conexão que é forte entre aquilo que foi, aquilo que é e aquilo que será. A mulher está no meio disso tudo. No entanto, ela sabe que com base nisso, confiando em tudo isso ela é capaz e forte o suficiente para ultrapassar a onda escura da incerteza e conquistar o seu melhor, colocando a vida em movimento.

Esse quadro chama minha atenção porque é uma etapa da jornada que todas nós, em algum momento, vai viver ou já viveu . O quadro é da artista Carina Flores – Criativo Curioso a quem eu agradeço muito.

Confere aqui o desenho e outros trabalhos dela.

Para onde ela quer ir?

Rio de Janeiro

Se me perguntar por quem os sinos dobram eu vou responder com todo meu coração que é pelo Rio. Foi nessa cidade que eu pedi as bençãos de Yemanjá, foi nessa cidade que eu decidi morar. Foi no Rio que eu me vi alguém que aprecia a beleza mesmo onde há descaso e muito esquecimento. No Rio eu fiz pesquisa, eu fiz amigos, eu descobri o amor.

Em São Paulo eu descobri que amava o Rio. Descobri que o mar me faz muita falta como eu nunca havia me dado conta antes. Em São Paulo eu me voltei a um caminho mais profundo de mim mesma. Eu me vi mais em silêncio e sozinha. Eu assumi a solidão que já me acompanha há muito tempo sem ter vergonha dela. Em São Paulo eu também assumi que sou capaz de cuidar de mim, renunciar demandas, fazer novas e melhores escolhas. Foi em São Paulo que eu me olhei no espelho e percebi que meu sorriso mudou, que meus olhos ficaram diferentes e que estou ficando mais velha. Até então eu ainda não tinha percebido isso.

Acho que em São Paulo eu percebi que não se pode viver a vida como se ela fosse fácil, simples. De fato ela é. Mas a gente precisa perceber sua dureza para reconhecer e aproveitar os momentos singelos quando eles raros se mostram. Em um ano de terra da garoa eu chorei com a velhice dos outros que pedem esmolas nas ruas. Eu chorei com saudades de casa e de um tempo que não vai voltar mais. Eu chorei com a beleza de ver a vida como ela é, sem disfarces. Apenas sendo. Eu lamentei as amizades que não me quiseram, que não me acreditaram ser relevante. Eu me encontrei com os ombros daqueles que se abriram pelo caminho. Percebi que sempre fui vista como estrangeira na última década e que ao viver na cidade de forasteiros eu me senti um pouco menos estrangeira e um pouco mais solitária.

Em São Paulo e me lembrei que eu gostava de escrever. Eu redescobri minha vontade de escrever sobre mim e sobre a vida que me rodeia. Eu voltei a escrever então e me inscrevi em um curso para escritores. Em São Paulo eu tive medo de morrer sozinha. Um dia. Quando todos já tiverem ido. Percebi que muito pouco é possível adiar, afinal, o olhar de quem se ama, o abraço, o estar perto são momentos inadiáveis. A gente acha que esse tipo de coisa se repete, que haverão outros momentos iguais e que não precisamos nos preocupar com isso agora. Quando existe esse pensamento estamos inconscientes do aqui e agora e do quão preciosos eles são. Em São Paulo eu entendi que às vezes torpedos mortais passam de raspão e que o desequilíbrio e a desconexão, quando prolongados, adoecem a alma e o corpo.

Em São Paulo tive saudades do carnaval do Rio, da purpurina que brilha pelas ruas vivas da cidade. Tive saudade daquele cheiro de mar que chega assim displicente, sem avisar. Daquele barulho de buzina dos navios que se escuta ao longe cortando a baía. Realmente a gente aprende a dar valor em algumas coisas quando as perdemos.

No Rio eu vivi em São Paulo eu amadureci. Honro minha caminhada até aqui. Respeito meus passos que também vêm de longe. E agora, pergunto-me, onde quero ir? Ficar? Retornar? Permanecer?

A alma quer ficar onde eu puder me preservar e me manter. Crescer. Tudo que aprendo carrego comigo.

O Rio, por quem os sinos dobram, de onde eu estou a me despedir.. por vezes voltar
Agradecendo.

Temer inicia seu projeto de reformas neoliberais

Enquanto isso o Brasil vai se tornando cada vez menos um país altivo e soberano

 

Foi aprovado no dia 22 de março de 2017, o Projeto de Lei (PL 4302/1998) que regulamenta a terceirização da mão de obra em atividades meio e fim nos setores público e privado, que irá agora para sanção presidencial. A nova realidade alterou as regras de terceirização em várias instâncias e setores da sociedade e fragiliza as relações de trabalho, tendo como uma das consequencias a redução dos salários. Antes do projeto, a Justiça do Trabalho só permitia a terceirização em atividades secundárias – conhecidas como atividades-meio, que não são o principal negócio de uma companhia. A medida flexibiliza as leis que regem o trabalho no Brasil, ampliando as possibilidade de terceirização dos trabalhadores e de contração temporária, que passou de três para seis meses o tempo máximo de sua duração, com possibilidade de extensão por mais 90 dias , ou seja, até nove meses. NOVE MESES DE TRABALHO TEMPORÁRIO!

Antes não havia vínculo de emprego entre as empresas contratantes e os trabalhadores terceirizados, mas havia a exigência de que 4% do valor do contrato fosse retido como garantia do cumprimento dos direitos trabalhistas e das exigências previdenciárias. O texto aprovado na Câmara não prevê tais garantias. Além disso, o terceirizado só pode cobrar o pagamento de direitos trabalhistas da empresa tomadora de serviço após se esgotarem os bens da empresa que terceiriza. Não haverá mais a responsabilidade solidária da empresa que terceiriza.
Em suma, a principal mudança se refere à permissão das empresas para terceirizar quaisquer atividades, não apenas atividades acessórias da empresa. Isso significa que uma escola que antes poderia contratar só serviços terceirizados de limpeza, alimentação e contabilidade agora poderá também contratar professores terceirizados. Também o direito à greve que todo trabalhador antes tinha está sendo revisto, pois o texto aprovado inclui a possibilidade de contratação de temporários para substituir grevistas, se a greve for declarada abusiva ou houver paralisação de serviços essenciais.

Após o relator do projeto na Câmara dos Deputados, Laercio Oliveira (SD-SE), afirmar que “ninguém faz limpeza melhor do que a mulher”, fica bastante claro o pensamento machista (porque não basta ser golpista) dos políticos brasileiros que estão a decidir o futuro das pessoas, quem morre ou vive daqui para frente e como estão sendo tratadas as mulheres e os direitos dos trabalhadores, que deixarão de existir.

Seguindo nessa linha, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a Justiça do Trabalho “não deveria nem existir”, assim fica difícil acreditar que tais medidas sejam para favorecer investimentos no país e para ampliar os empregos. Tais mudanças, assim como a proposta para a Reforma Trabalhista (Projeto de Lei – PL 6787/16) e a Reforma da Previdência (Proposta de Emenda à Constituição – PEC 287/16), são de cunho liberal e irá impactar milhares de brasileiros, não só jovens iniciando a carreira profissional, adultos no mercado de trabalho, como também servidores públicos, mães, professores, deficientes físicos, idosos, trabalhadores rurais, enfim, todos nós.

Esta foi uma vitória da gerência golpista de Michel Temer, que já havia aprovado em dezembro de 2016 a PEC 241 (ou 55), que congela por até 20 anos os gastos públicos, ou melhor dizendo, os investimentos em setores já carentes como saúde e educação. O PL da Terceirização (4302/98) foi encaminhado à Câmara em 1998 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e aprovado no Senado em 2002. Por esse motivo ele não retornou ao Senado e uma vez aprovado na Câmara, em uma versão feita há 19 anos, portanto um texto desatualizado e fora da realidade atual, segue para sanção de Temer.

Reforma Trabalhista – propostas de alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

Diante do atual contexto, podemos intuir que a totalidade das medidas do Governo Federal que envolvem a relação capital e trabalho no Brasil prejudica a população, mas os políticos insistem em dizer que novos empregos serão gerados. Estudo publicado pelo Banco Mundial desautoriza essas conclusões. Em geral, a geração de empregos é mais associada à atividade econômica e à evolução da produtividade. “No Brasil, por exemplo, o setor privado criou quase 18 milhões de empregos formais entre 2002 e 2014 sem que tenha havido uma mudança relevante na legislação trabalhista”, afirmou o Diretor Nacional de Organização Sindical da Nova Central, Geraldo Ramthun no portal Fetraconspar.

O Ministério Público do Trabalho já se posicionou afirmando em nota assinada pelo procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury, que o “único propósito” das alterações previstas para a CLT é o de “permitir a exclusão de direitos trabalhistas”, alertou. Em outras palavras, os acordos feitos entre empregador e empregado valerão mais do que aquilo previsto em Lei e enfraquecerá os sindicatos no processo de negociação coletiva. É fácil descobrir o lado mais fraco, aquele que irá ceder bem mais, sob ameaças do fantasma do desemprego. Ou seja, o que for negociado diretamente entre empregadores e funcionários valerá mais do que a CLT. Não haverá negociação, mas sim imposição dos patrões, como diz um ditado indiano, “genro não, marido da minha filha” (uma coisa não muda o seu caráter pelo fato de você chamá-la por um nome diferente).

Todos nós sairemos perdendo. O setor de empresários serão os mais beneficiados em um primeiro momento, pois terão o poder de reduzir salários, aumentar o desemprego, a rotatividade de funcionários e a informalidade. Mas a médio e longo prazo, com uma população empobrecida, desmotivada, doente e sem dignidade, a economia não avançará, haverá pouca circulação monetária e o que era uma crise ruim poderá se aprofundar. É perverso.

Entre as possibilidades de convensões coletivas estão o parcelamento das férias em até três vezes, compensação da jornada de trabalho, intervalos de intrajornada, plano de cargos e salários, banco de horas e trabalho remoto bem como formas de pagamento, entre outros. Para a jornada de trabalho, será permitido negociar desde que respeitado o limite máximo de 220 horas mensais e de 12 horas diárias (metade do dia, que tem 24 horas – destas, pelo menos 4 horas são gastas em transporte público), a mesma carga horária que um operário fazia nas fábricas insalúbres do início do século XX, nos primórdios da sociedade urbano-industrial). Hoje a jornada padrão é de 8 horas por dia, com possibilidade de haver 2 horas a mais. A jornada padrão semanal é de 44 horas.

Leia mais em A Roda da História.

Saiba mais sobre a Reforma Trabalhista

Reforma da Previdência – o sonho inalcansável da aposentadoria

Cedendo às pressões dos parlamentares, no dia 21 de março, Michel Temer retirou os servidores estaduais e municipais das mudanças propostas pela reforma, que incluirá somente os federais. Rodrigo Maia, o presidente da Câmara dos Deputados, afirmou que a mudança na reforma anunciada reduz “70%” da pressão que os parlamentares estavam sentindo em suas bases eleitorais, e consequentemente facilita a aprovação do projeto. Sobre a exclusão destes, a senadora do PT-PR, Gleisi Hoffmann disse em seu discurso no plenário que o atual presidente se aproveitou da crise da carne para aplicar um golpe (outro) nos servidores que supostamente seriam poupados das medidas nefastas. Segundo ela, trata-se de uma estratégia para diluir o poder popular de mobilização nas ruas das principais capitais do Brasil, obrigando esta parcela de servidores públicos terem com os Governos Estaduais os embates para garantia dos direitos, mudando o foco das manifestações.

A maior parte da população que esteve pressionando o (des)Governo Federal no último dia 15 de Março reividicando a permanência de seus direitos, eram de servidores. Sabemos que para o trabalhador do setor privado é mais difícil a participação, ainda que muitos setores ventilem uma greve geral. No entanto, a população não foi ouvida pelo poder público e muito menos pela grande mídia, que ignorou os fatos em seus noticiários e impressos, inclusive não relatando a violência policial que se seguiu, principalmente no Rio de Janeiro.

A Reforma da Previdência é um ataque direto a professores, trabalhadores rurais, policiais civis, servidores públicos federais e mulheres. Ela prevê a maior mudança no sistema de seguridade social desde a Constituição de 1988; só integrantes das Forças Armadas, PMs e bombeiros militares ficam de fora, ou seja, a força repressora do país. Ela ainda prevê a igualdade da faixa etária mínima para se aposentar entre homens e mulheres para 65 anos, um tempo de contribuição initerruptos por 49 anos, além de alcançar basicamente dois grupos de benefícios: os programáveis (aposentadorias por idade, por tempo de contribuição e especial) e os não programáveis (aposentadoria por invalidez e pensão por morte). Para os servidores federais, as mudanças se dão basicamente no cáulculo dos benefícios e no tempo permitido para acessá-los. É possível consultar esses cálculos aqui. Alguém precisa avisar ao Temer que NÃO SOMOS IMORTAIS!

Saiba mais sobre a Reforma da Previdência

“No limite, o Brasil poderia conviver com uma situação paradoxal de se situar entre as economias mais avançadas no planeta neste início do século 21, porém com o funcionamento de seu mercado de trabalho retrocedendo aos anos anteriores à década de 1950. Naquela época, quase 4/5 dos trabalhadores recebiam ao redor do salário mínimo”.

Márcio Pochmann citado por Sayonara Grillo em seu artigo “A terceirização e o papel dos tribunais no controle das práticas de precarização do trabalho”.

Sobre a reforma da previdência, Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, afirmou que “o que se pretende é o fim da previdência pública, quase a sua destruição, na medida em que estão propostos pré-requisitos tão rígidos e descolados da realidade brasileira que, se aprovada a proposta, a aposentadoria no Brasil passaria a ser uma ilusão”.

Para finalizar cito a filosofa Marcia Tiburi, em artigo publicado em coluna da Revista Cult:

Somos todos trabalhadores! A luta contra a opressão deve ser de todos! Isso quer dizer que toda luta só é luta quando ela é luta do outro. Que lutar pelos direitos das mulheres é lutar pelos direitos dos negros, que lutar pelos direitos dos negros é lutar pelos direitos das mulheres e dos índios, das pessoas trans e dos trabalhadores, que lutar pelos direitos dos trabalhadores é lutar pelos direitos das mulheres que são, mesmo quando devem descansar, trabalhadoras; que lutar por direitos não significa lutar apenas pelos seus e que não somos apenas nós mesmos que podemos lutar por nossos direitos. Todos devem lutar”.

Assista também ao ótimo vídeo do portal Justificando – Reforma TRABALHOSTA – O que todo mundo precisa saber.

FONTES:

El País – Câmara aprova terceirização para todas as atividades. Entenda o que muda

El País – Terceirização, uma votação a toque de caixa estratégica para Temer

El País – Entenda o que é a PEC 241 (ou 55) e como ela pode afetar sua vida

Huffpostbrasil – Relator da terceirização acredita que ‘ninguém faz limpeza melhor do que a mulher’

ANDES – SN – Previdência: alteração na PEC 287 não exclui estaduais e municipais dos ataques

Diário do Rio On Line – Fim da CLT. Reforma prejudica trabalhadores nas negociações

IPEA – Previdência e Gênero: por que as idades de aposentadoria entre homens e mulheres devem ser diferentes?

Brasil 247 – Matemático aponta erro de cálculo na Reforma da Previdência

Precisamos barrar o projeto de reforma da Previdência

Ele é cruel e inconstitucional

Protesto popular no Rio de Janeiro

Um grande paralização popular aconteceu na tarde de ontem, dia 15 de março, contra o projeto de Reforma da Previdência (PEC 287/2016) imposto pelo governo golpista de Michel Temer e seus comparsas. Após o histórico 8M em que milhares de mulheres tomaram as ruas do centro da cidade, este foi mais um momento em que a mensagem de repúdio ficou clara: não queremos a reforma, ela nos roubará direitos históricos conquistados, vai escravizar o ser humano em uma vida inteira de trabalho retirando-lhe o direito de uma aposentadoria minimamente digna ao final.

Somos contra a aprovação desse projeto de reforma, ela em nada beneficia o trabalhador e ao contrário, retira seus direitos ludibriando com uma propaganda enganosa na televisão e nos jornais. É importante lembrar que a juiza Marciane Bonzanini, titular da 1ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre, determinou, no mesmo dia das manifestações ocorridas em todo o país, que o governo de Michel Temer retire imediatamente do ar as propagandas veiculadas na mídia, sobre o projeto de Reforma da Previdência, pois entendeu que o governo Temer não poderia ter utilizado recursos públicos para financiar a propaganda. A campanha promove, segundo a magistrada, uma espécie de terrorismo junto à população.

É sabido que as mais prejudicadas com esse atual projeto de “reforma” da Previdência Social, que penaliza toda a população trabalhadora do Brasil são, em particular, as mulheres. O fim da aposentadoria por tempo de contribuição, o aumento da idade mínima para elas (que passará de 60 para 65 anos), o fim da aposentadoria especial para professores (categoria formada em sua maioria de mulheres) são alguns exemplos.


Poder popular

Eu estive nesse ato unificado junto com outras mulheres, pessoas idosas, trabalhadores e trabalhadoras, crianças com seus pais, mães com crianças de colo, muitos jovens secundaristas. Todos marcaram presença e era possível ler muitos cartazes e faixas que anunciavam a mesma mensagem: Somos contra a Reforma da Previdência. Porém, favorável à Reforma da PRESIDÊNCIA!! Urgente!!

Ana Raquel, 40 anos, militante do Partido Comunista Brasileiro e feminista, estava entre a multidão e disse que sua motivação para estar ali é lutar contra o ataque aos direitos dos trabalhadores e das mulheres. “Eu penso muito na minha mãe, que faleceu há alguns anos, ela se aposentou aos 61 anos e morreu aos 64. Se essa Reforma passa, ela hoje não poderia se aposentar. Então eu estou aqui pela minha mãe, por mim, por todas as Marias que estão aqui conscientes ou não”, desabafou.

Sônia, 57 anos, e sua amiga Elizabete, 65 anos, levantaram a luta pela UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que há alguns anos já sofre na decadência completa, sem recursos do Estado para manter serviços básicos como limpeza, pagamento dos funcionários, entre outros. “Apesar de ter condições de me aposentar, estou aqui hoje me posicionando contra a reforma da Previdência pelos jovens e pelas mulheres, gente que vai trabalhar até o fim da vida se for aprovado esse projeto”, disse Sônia. “Pela UERJ queremos que o Estado assuma sua responsabilidade constitucional com a educação pública”, disse Elizabete.

Vitória, 25 anos, disse que a situação do Brasil hoje é uma vergonha internacional. Ela vê como positiva a paralização geral de diversos grupos unificados para lutar juntos contra o projeto. “Desde as manifestações de 2013, esta é a primeira vez que eu vejo os trabalhadores de todos os setores se unindo com tanta força e gás, é histórico. É grande a minha expectativa para uma grande greve geral, os manifestos ocorreram hoje em muitos lugares do Brasil e eu acredito que temos força suficiente para não aceitar o que o governo nos quer impor”, concluiu a jovem.

Anos de desvios

Um artigo escrito por Clauber Santos Barros, acadêmico de Direito pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), há cerca de dois anos indica que ao longo dos anos 50 e 60, recursos da Previdência Social foram desviados para custear grandes obras no país como a construção de Brasília, a Transamazônia, a Ponte Rio-Niterói, as Usinas de Itaipú e Angra dos Reis, entre outras.

Os recursos desviados jamais foram devolvidos. Medidas como a criação da Desvinculação da Receita da União (DRU), que posibilita a retirada de parte do valor destinado à seguridade social repassando este valor para o orçamento fiscal, provoca o déficit da previdência, pois ao retirar dinheiro do orçamento público, a seguridade não consegue suprir as suas despesas. A última atualização da DRU foi feita na Emenda Constitucional n° 93, de 8 de setembro de 2016. Segundo o artigo, só no período de 2000 a 2007 o governo transferiu da seguridade social o equivalente a R$ 278,4 bilhões para financiar a dívida pública do país. Vem daí a falsa justificativa usada pelo Governo Federal.

 

Não existe défict

Outro ponto importante é sobre a falácia da existência de déficit nas contas da Previdência Social. Já há estudos concluídos que apontam ser falso o argumento do Governo Temer de que há um grande déficit na Previdência Social. Segundo a confederação dos aposentados e a associação de auditores fiscais, do próprio governo, em vez de faltar dinheiro para o INSS em 2015, há uma sobra de quase R$ 25 bilhões. Os auditores e aposentados alertam que o governo ignora a Constituição Federal e deixa de lado a arrecadação da Seguridade Social, que inclui as áreas de Saúde, Assistência e Previdência.

De acordo com a Anfip (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), que anualmente divulga os dados da Seguridade Social, não existe déficit. Pelo contrário, os superávits nos últimos anos foram sucessivos: saldo positivo de R$ 59,9 bilhões em 2006; R$ 72,6 bilhões, em 2007; R$ 64,3 bi, em 2008; R$ 32,7 bi, em 2009; R$ 53,8 bi, em 2010; R$ 75,7 bi, em 2011; R$ 82,7 bi, em 2012; R$ 76,2 bi, em 2013; R$ 53,9 bi, em 2014.

Atualmente, a reforma da Previdência está em análise em uma comissão especial da Câmara. Em seguida, caberá ao plenário da Casa votar a proposta e, depois, ao Senado.

Para entender mais sobre o assunto, acesse também artigo Erro na fórmula do cálculo do benefício na atual proposta de Reforma da Previdência.

Fique ligado (a)!! Venha para as ruas! Já tem luta!

Saiba mais sobre em Carta Capital

Confira todas as fotos aqui.

Tweed Ride Rio visita o Museu do Ingá

Edição de Inverno acontece com exposição de bicicletas antigas

Arte de Luisa Wasserman

Arte de Luisa Wasserman

No próximo domingo (28 de Agosto) o Tweed Ride Rio visita o Museu do Ingá, em Niterói, para mais uma edição de inverno do passeio mais charmoso da cidade. Iremos nos concentrar às 13h na Praça XV para sair de barca às 14h rumo ao nosso destino. Encontraremos os parceiros Pedal Sonoro e partiremos pela cidade com muita música no melhor estilo de antigamente. Tragam suas toalhas, vinho e quitutes para um picnic nos jardins do Museu.

Imperdível!

Imperdível!

No mesmo local, os ciclistas do passado poderão aproveitar a exposição “Bicicletas em Perspectivas: hábitos passados, usos presentes” durante nosso encontro, uma ótima oportunidade de conhecer mais sobre a história desse fabuloso veículo, velha companheira de locomoção desde o século passado.

Também teremos a ilústre participação do grupo de dança da Denise e do Luiz, que farão um aulão de Lindy Hop. Vai ser difícil ficar parado.. Vamos dançar!!

Caprichem no visual, pois como já é tradição, teremos premiação para os melhores trajes feminino e masculino, uma parceria do brechó La Botica da Jane. Ainda falando em prêmios, não para por aí. Iremos sortear duas peças do brechó Abapha Vintage, uma saia e uma blusa, mas só para mulheres que vestem P (um M sendo bem otimista), pois não há possibilidade de troca das peças. Quem se interessar poderá participar do sorteio, mas só receberá a peça quem for ao passeio de bike. Clica aqui e saiba mais!

Teremos Aulão!!

Teremos Aulão!!

Quem não tiver bicicleta e quiser participar, poderá alugar as bicis do Itaú.

Saiba mais nesse link

Venha voltar no tempo com a gente!!

 

 

 

Quer dicas de moda? Corra para o POST que fizemos com dicas incríveis!

Confirme presença no evento!!

 

Serviço

Tweed Ride Rio – Edição de Inverno no Museu do Ingá

Dia 28 de agosto

Concentração Praça XV às 13h

Saída 14h

Previsão de retorno 18h

 

Parceria:
Museu do Ingá
La Botica da Jane
Abapha Vintage Pop

Apoio:
Bike Anjo Rio
Pedal Sonoro

 

 

Adoção dos Índices de Progresso Social (IPS) é estratégia para a redução das diferenças territoriais

É possível promover o bem estar da população sem que isso esteja vinculado ao PIB do país ou região

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“Não existe empresa bem sucedida em uma nação falida”. A afirmação é de Gláucia Barros, diretora programática da Fundação Avina, responsável pelas ações da Fundación Avina no Brasil, coordenando na região da Amazônia os programas de acesso à água, energia e indústrias extrativas, cidades sustentáveis, mudanças climáticas, reciclagem inclusiva, inovação política e negócios de impacto.

Glaucia Barros, da Fundação Avina no painel "Informação para Transformação"

Glaucia Barros, da Fundação Avina no painel “Informação para Transformação”

Em sua apresentação durante o Fórum de Sustentabilidade do Rio, Gláucia mostrou que se somarmos o PIB de um local com os Índices de Progresso Social, é possível atingir um crescimento inclusivo numa região. O Índice de Progresso Social (IPS) sugere que os países do mundo devem ter como meta priorizar o progresso social e indica ainda que as desafiadoras condições econômicas locais não devem necessariamente ser um obstáculo à melhoria de vida dos cidadãos.

Entre seus principais pilares estão o atendimento às necessidades humanas básicas (nutrição e cuidados médicos, água e saneamento básico, abrigo e segurança pessoal); fundamentos do bem-estar (como acesso ao conhecimento básico, acesso à informação e comunicação, saúde e meio ambiente sustentável) e oportunidade (tolerância e inclusão, liberdade pessoal e de escolha, direitos pessoais e acesso ao ensino superior). O IPS foi criado como um complemento a outros indicadores, com o objetivo de permitir uma compreensão mais holística do desempenho geral das nações pesquisadas. Em sua avaliação são feitas as seguintes perguntas:

1) Será que um país providencia as necessidades mais essenciais do seu povo?

2) São construídos mecanismos na região local para que seus indivíduos e comunidades possam melhorar e sustentar o bem-estar?

3) Existe oportunidade para todos os indivíduos em determinado local para garantir que todos possam atingir o seu pleno potencial?

 

Em 2016 os países da América Latina e do Caribe foram relativamente piores em suas colocações em relação à edição 2015 do levantamento, ao registrarem queda em índices comparados com seu poder econômico em uma faixa de medidas de progresso social. Esse recuo é percebido especialmente em relação à tolerância e inclusão e liberdade pessoal (itens avaliados dentro da chamada dimensão de “Oportunidade”). As questões de segurança pessoal, em especial, são problemáticas, assim como o acesso à educação superior.

América Latina e resultados

Segundo Gláucia Barros, é interessante observar que em países ricos de alto PIB, quando aplicados os IPS, o que melhora mais rapidamente tende a ser os cuidados médicos e a nutrição. Os dados apontados para a América Latina ajudam na formação de quatro grupos:

– países com pontuação 72 ou superior no IPS são os que apresentam menores desafios em termos de bem-estar social em relação ao contexto da região (Chile, Uruguai, Costa Rica Argentina e Panamá). O Chile foi o melhor colocado, com uma pontuação de 82.12;

-um grupo de cinco países ocupa a faixa intermediária de 70 a 72 pontos: Jamaica, Brasil, Colômbia, Peru e México;

– dois últimos grupos estão abaixo da média dos países do continente: Equador, Paraguai, El Salvador e República Dominicana ficam com pontuação entre 65 e 70;

– já os países com déficits graves de bem-estar social, como Bolívia, Nicarágua, Venezuela, Guatemala e Honduras, têm pontuação no Índice de Progresso Social um pouco acima de 50.

Painel "Informação para Transformação" composto por Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da UFRJ; Luciana Nery, gerente de Resiliência – Centro de Operações Rio; Júnia Santa Rosa, urbanista e consultora; Glaucia Barros, diretora programática da Fundação Avina; Marcelo Mosaner, mestre em Economia Política/PUC-SP e Joana Monteiro, diretora presidente do Instituto de Segurança Pública.

Painel “Informação para Transformação” composto por Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da UFRJ; Luciana Nery, gerente de Resiliência – Centro de Operações Rio; Júnia Santa Rosa, urbanista e consultora; Glaucia Barros, diretora programática da Fundação Avina; Marcelo Mosaner, mestre em Economia Política/PUC-SP e Joana Monteiro, diretora presidente do Instituto de Segurança Pública.

O progresso social no Brasil confirma as tendências regionais: enquanto o país aparece inserido no grupo de médio-alto progresso social, na 46ª posição na avaliação média de todos os indicadores, ele aparece em 77º e 123º lugares, respectivamente, nos quesitos moradia e segurança pessoal.

Apesar disso, o Brasil lidera o grupo dos BRICS, seguido por África do Sul, Rússia, China e Índia. Exceto o Brasil, cujo avanço social, na 46ª posição, é mais alto do que seu PIB per capita (54ª), todos os BRICS têm baixo desempenho no IPS. Já em relação aos países da América do Sul, o Brasil ocupou a 4ª posição, ficando atrás de Chile, Uruguai e Argentina. Até o momento, não estamos indo tão mal assim,  veremos como fica nossa posição em um cenário golpista como este que passamos a viver a partir de março deste ano.

Mas como medir o impacto disso nas comunidades? Já existem mecanismo para medir indicadores de resultados e processos, mas não existem indicadores para medição de impacto. Nesse sentido, uma tentativa está sendo realizada em sete estados amazônicos juntamente com o governo do Pará e empresas como Coca-Cola e Natura. São 772 municípios que participam na região do Carauari para que sejam desvendadas essas métricas e modelos de medição. Inclusive, o governador Simão Jatene adotou os resultados do IPS Amazônia, apurados pelo IMAZON, como linha de base de seu plano plurianual de governo, que também será monitorado e avaliado de acordo com a progressão dos indicadores organizados.

Ver sobre o IPS Amazônia

Justiça social não combina com golpe político

Fala-se muito em equidade entre as nações e distribuição de riquezas em nível mundial, mas hoje o Brasil se compara à Mongólia em 60% (apenas) de IPS atingido. Isso faz com que pensemos: como é possível falar em redução da desigualdade social em um contexto onde alguns setores importantes da sociedade, como os empresários, ainda não reconhecem o processo político que vive hoje o Brasil como um golpe? O atual plano de governo vigente é cheio de medidas neoliberais áusteras que prevê o corte de todo e qualquer direito social. É no mínimo incoerente.

Promover a inclusão social de modo que ela se torne realidade no mundo e buscar atingir a equidade entre as nações do ponto de vista do IPS é fundamental. No entanto, permitir que o governo interino libere compra de territórios indígenas por estrangeiros e privatize nossas riquezas não está definitivamente contribuindo para o crescimento do Brasil e seu progresso social. Ao contrário. É retroceder nesse objetivo. Se o setor privado e as entidades de pesquisa não entendem isso, é provável que todas as iniciativas serão em vão.

Ainda temos déficits importantes em segurança pessoal (ele aparece entre as dez últimas posições do ranking) e também em cuidados médicos básicos e de moradia. Os resultados da edição 2016 do IPS mostram que, embora haja uma correlação entre o progresso social e o PIB, o crescimento econômico está longe de garantir avanços no campo social.

Pelo visto, o PIB não é tudo. Há exemplos como a Costa Rica que promove um alto progresso social com um PIB modesto. Focar no desempenho do Canadá e Austrália para aprender o que seus líderes estão fazendo para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos pode ser um caminho.

#socialprogress 2016

#socialprogress 2016

“É valioso ter novas métricas que nos ajudem a identificar as muitas outras riquezas, além da econômica, que se requerem para o desenvolvimento justo, democrático e sustentável. Isso, especialmente para o contexto brasileiro e em tempos de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, faz muito sentido para que governos, empresas e organizações sociais tomem melhores decisões e possam medir o impacto efetivo de seus investimentos na qualidade de vida das pessoas e dos bens ecossistêmicos”, disse Gláucia Barros, que coordena também a estratégia do Índice de Progresso Social no Brasil e em outros sete países da América do Sul.

Sobre o PIB e o que o IPS pode revelar sobre seu país:

TED Talks – Michael Green, criador do IPS, explica.

Saiba mais:

Durante o Fórum de Sustentabilidade do Rio foi recomendado a adoção do IPS para o Rio de Janeiro

Progresso Social

Avina

A importância da mensuração do IPS em comunidades