Era tudo um sonho?

Talvez ela só quisesse outra vida. Talvez estivesse completamente fora de seu tempo, em um lugar onde a infinita vontade de não ser quem era, ou de ser longe dali a consumia por completo. Jamais poderia suportar mais um filho, mais uma manhã feliz naquela casa perfeita, sendo visitada por vizinhos perfeitos e principalmente amada pelo marido perfeito, ainda que pairasse sobre ele a sombra do fracasso. Mulher fêmea em uma época e lugar onde ter uma vida ou estar vivo era algo inadmissível.

Mais um filho? Quem quer mais um filho?
Disseram muitas coisas horríveis um para o outro, mas o que está feito está feito. Palavras. Não se muda o mundo com palavras. Sentimentos, sim, têm a capacidade de serem mudados por elas. Talvez Paris fosse mesmo a solução. Esta seria a primeira antes da morte dela ou do feto que ela esperava. Não importa. A morte como segunda solução imediata de uma vida que, não alcançando a felicidade, dada a rotina e esperança, só lhe restava o vazio para fugir. Ela só queria outra vida.

Porque não esperou apenas nove meses para ir embora para sempre? Porque não pode esperar para enfim sair em busca daquilo que gritava dentro de si a rompia com violência? Porque não bastou ir, como fez a mãe (Julianne Moore) em “As Horas” (The Hours – 2002)? Há pessoas que não nascem para serem mães. Porque as coisas e ela própria deixaram de valer a pena para ela? Há pessoas que não nasceram para a vida que levam. E há outras que, vivendo assim, não suportam por muito tempo, até que percebem que não podem partir e tampouco podem ficar, então, não servem mesmo para nada. Porque o silêncio é tão incompreendido? Porque o desapego é tão encurralado? Ela só tinha um espírito de aventura que a consumia demais. Ele só amou a mulher errada porque sua noção de felicidade era muito diferente da dela.

Saber amar é mesmo um mistério. Um dia se descobre que não importa muito o que o outro faça, ele só se preocupa consigo mesmo. O mais importante é ouvir a voz de dentro e tentar, de todas as maneiras, desprender as amarras da mesmice, do medo, dos ideais alheios, das dores profundas que todos nós carregamos por mais que não olhemos para elas. E, se preciso for, correr, correr muito até as pernas não darem mais um passo.

Hoje eu me dei ao luxo de ir ao cinema no meio do dia, da tarde de 3 de março de 2009.

Ps: Revolutionary Road (Apenas um sonho)é baseado num romance escrito por Richard Yates em 1961 e conta os dramas de Frank e April Wheeler, casal suburbano, nos anos 50. A realização do filme está a cargo de Sam Mendes (Beleza Americana). Abaixo uma deixa.