Da imprensa real à atual


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Por Aline Souza 18/04/2005 às 14:21


Não há como pensar em democratizar os meios de comunicação quando se trata de uma sociedade autoritária e desigual como a brasileira, onde a informação é mais um bem de consumo.

Da imprensa real à atual

A imprensa e os meios de comunicação sempre atenderam e pertenceram a uma classe dominante desde seus primórdios. Hoje, o que acontece é reflexo da submissão econômica do Brasil, da construção da informação de cima para baixo, da legitimação do consumo e do estilo de vida de uma burguesia incorporada aos trópicos tupiniquins.Ou seja, é reflexo do que sempre aconteceu.

As oligarquias brasileiras que se transformam ao longo do tempo fazem com que o país permaneça autoritário, contraditório, desigual e não democrático. Se a população não tem acesso a direitos básicos como saúde e educação, por tabela não terá acesso à informação, que é monopolizada pelas classes dominantes desde sua produção até a sua distribuição. A informação, assim como a opinião pública, é um produto manufaturado e um bem de consumo como o carro do ano, o pãozinho francês, a casa própria, etc.

Até mesmo os padrões globais de programas televisivos são importados de outros canais estrangeiros, oriundos de um estilo de vida burguês que é adaptado ao nosso. Isso se comprova quando vemos o Jornal Nacional, em cor azul com a redação visível ao fundo. Típico telejornal americano. Também o programa do Jô Soares é uma cópia fiel ao programa de entrevista David Lettermam Show, imitando até a caneca do entrevistado e o cenário.

Posso dizer que isso se compara à falácia: tostines é fresquinho porque é gostoso ou é gostoso porque é fresquinho? O que engolimos é uma ideologia de consumo que sustenta todo o sistema político atual, que por sua vez é dependente dos meios de comunicação que rege a sociedade mediatizada.

Como conseqüência disso, o papel do Estado foi deixado de lado e assumido por transnacionais, instituições extrangeiras e principalmente pelas ONGs – organizações não governamentais- (prestadoras de serviçoes que seguem a interesses econômicos segmentados), representantes do chamado assistencialismo econômico, presente principalmente na América Latina.

A internet, como explica Roberto Amaral, jornalista e professor da PUC-Rio, em seu estudo sobre Imprensa e controle da opinião pública, não pode ser considerada um meio de comunicação de massa pois seu acesso ainda é muito restrito para grande parte da população e muito caro. Seus usuários cultuam um ideal democrático, mas ele só existe dentro do limite da própria rede. “A sua popularização só é real se desconsiderarmos os que não têm acesso a ela”.

Até mesmo a tv fechada é uma ilusão de informação que legitima a exclusão, afinal uma sociedade que divide cidadãos em classes (primeira, segunda, terceira..), constrói também telespectadores em classes, mas igualmente desinformados ou com a ilusão da informação. O fato de ter mais canais para ficar alternando não significa ter acesso a conteúdos diferenciados.

Já a imprensa, dentro da globalização, que na verdade é um apelido para o imperialismo, está ali para defender o seu peixe, assim como muitos outros segmentos que procuram defender os interesses dos dominantes. A imprensa nunca esteve contra o governo, a não ser quando esse próprio governo virou-se contra o poder.

Segundo Amaral, quando se apura a chamada opinião pública, na verdade o que se está apurando é a eficiência da manipulação dos meios de comunicação de massa. Opinião pública exige um mínimo de autonomia, de informação limpa, o que exige veículos independentes e isentos. “No Brasil, o meio de comunicação, a imprensa, é um partido político”. Portanto, é impossível pensar em democratização dos meios de comunicação numa sociedade autoritária como a brasileira, quando estes mesmos meios sempre estiveram ligados a estratégias políticas e militares.

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